terça-feira, 21 de agosto de 2012

LEONARDO FERREIRA: Um candidato alternativo

O PSOL em Suzano lança pela primeira vez uma candidatura para prefeito e aposta no jovem Leonardo Ferreira, 24 , como uma opção contra ao que eles chamam de "velha política"
Delcimar Ferreira
De Suzano
Erick Paiatto

Filho de retirantes da região de Canudos, historicamente conhecida pelo levante liderado por Antônio Conselheiro, Leonardo Ferreira (PSOL), com apenas 24 anos, se lança para o seu maior desafio: ser candidato a prefeito de Suzano e enfrentar aquilo que ele chama de "velha política". Marcando posição, o jovem jornalista de voz marcante que atua em movimentos sociais pelo direito à comunicação se orgulha da família de origem nordestina que encontrou no bairro Miguel Badra, a chance de realizar o sonho da casa própria. Ele conta nesta entrevista ao Diário do Alto Tietê, concedida em um restaurante da região central, como iniciou sua trajetória política sempre ligada a partidos considerados de esquerda.

Diário do Alto Tietê: Quando veio para Suzano e onde morou?
Leonardo Ferreira:
 Vim para Suzano com meus familiares em 1993, mas em 1982, meu pai Tito Ferreira Neto já sabia que ele ia morar aqui. Ele conheceu o bairro onde a gente mora até hoje e daí cresceu a vontade de vir para cá. Morávamos na Vila Curuçá, na região de São Miguel Paulista, em São Paulo. Meu pai era operário e veio para São Paulo em 1972. Ele saiu de Filadélfia, na região do semi-árido, próximo de Canudos, no interior da Bahia. Com 22 anos ele veio para São Paulo, com a cara e com a coragem. Meu pai é um grande guerreiro, que me inspira para poder seguir na luta. A família Ferreira é um retrato de milhares das famílias de Suzano, do Alto Tietê e de São Paulo, que vieram para realizar o sonho da casa própria, melhorar suas condições de vida. Em 1993, viemos para cá, eu cheguei aos 5 anos e lembro bem de como essa cidade se desenvolveu nessas últimas décadas.

DAT: Onde foi que você estudou?
Ferreira: 
Estudei sempre em escola pública. No ciclo básico, da 1ª até a 7ª série, estudei na escola Comendador Brasílio Machado Neto, que fica no bairro do SESC. O restante do ensino fundamental, da 8ª série ao 3º ano do ensino médio, concluí na Escola Estadual Antonio Brasílio Menezes da Fonseca, que fica no Miguel Badra. Concluí o ensino médio em 2004. Eu fiz Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) também, de 2002 a 2004, no curso de eletricista de manutenção. Acabei não seguindo até porque a comunicação falou mais alto. Uma questão que mais à frente, em 2005, culminaria no curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.


DAT: O que te despertou para a comunicação?
Ferreira:
 O desejo de buscar mudanças no mundo. A comunicação tinha esse papel, embora hoje a gente perceba que ela não cumpre esse papel da forma como deveria. Além disso, eu vi que tinha aptidões e habilidades que naturalmente me dariam condições de exercer a profissão de jornalista e também de comunicador. Diria que nessa época, pelo fato de ter um tom de voz legal, foi uma coisa que ajudou muito. Já trabalhei como repórter, assessor de Imprensa e agora sou autônomo e toco projetos em assessoria de comunicação.


DAT: Tem algum trabalho que desenvolveu em especial que gostaria de destacar?
Ferreira: 
Uma coisa que levo com muito carinho é a luta pelo direito à comunicação. Eu particularmente me dedico muito na questão dos blogueiros, que apoio e sou solidário. Sou um dos organizadores do movimento, mas é bom esclarecer, o movimento não tem partido, é uma coisa que a gente separa bem, até para não dar dor de cabeça. Quando a população consegue ter o direito à comunicação, consegue também atingir outros direitos.

DAT: Quando você começou a sua trajetória política?
Ferreira: 
Eu, enquanto filho de operário, nos anos 90 era garoto, vivi um pouco aquela onda de admiração pela primeira experiência do período de abertura, que foi o período do PT. Em 2001, através de um amigo, acabei conhecendo um partido político, o PSTU. Foi muito legal, tinha 15 anos, lembro como se fosse hoje. Foi um momento de despertar para a consciência política. O PSTU é a legenda do meu vice, o Marcus Vinícius Ramalho. Logo depois conheci outro grupo, que saiu do PT e formou o PSOL, da Heloísa Helena, o Babá (João Batista Oliveira Araújo). Em 2006, através da Inês Paz, acabei conhecendo o PSOL e me filiei em 2007, e desde então não parei. Tenho tido uma vida militante de forma muito intensa.


DAT: Você chegou a se filiar no PSTU?
Ferreira:
 Não. Fui simpatizante. Por conta de uma série de compromissos, não pude dar continuidade. Percebi que a linha deles não era muito próxima. Admiro muito essas pessoas de esquerda, mas a perspectiva do PSOL é mais ampla porque permite uma pluralidade maior. O PSTU segue uma linha do centralismo democrático, o que foi discutido aqui, o partido inteiro vai ter que seguir. O PSOL já tem uma linha que permite ter várias correntes.

DAT: O que te motivou a lançar candidatura para prefeito de Suzano?
Ferreira:
 Esse período é muito importante e muito complicado. Nossa candidatura da coligação "Suzano para os Trabalhadores" é um contraponto a velha política na cidade, ao clientelismo, a indiferença política, a composição dos coronéis que querem dar continuidade em administrar a cidade. É também uma resposta da juventude, no sentido de fazer um enfrentamento contra esses velhos blocos políticos que hoje estão fragmentados, que de forma oportunista, tentam dizer que são diferentes uns dos outros, mas o que acontece é que eles têm uma raiz comum. A candidatura do PSOL e do PSTU quer propor um modelo que inverta prioridades e aponte um novo caminho de desenvolvimento para o município, para que a população pobre da periferia venha ser o grande centro das atenções e tenham seus direitos garantidos.


DAT: O que falta para que o partido ganhe mais peso político na cidade?
Ferreira: 
O PSOL é um partido muito respeitado nacionalmente. Onde tem PSOL, existe um projeto consistente. Se você tem um vereador ou um deputado do PSOL, você pode ter certeza que isso significa que vai ter um mandato de luta. Em Suzano é a nossa primeira eleição, todo começo tem lá suas dificuldades, até porque tem outra questão: a disparidade econômica. Você vê campanhas milionárias, é claro, capitaneadas por grandes empresários, empreiteiras. Mas o PSOL tem uma questão de princípio, a gente não recebe dinheiro de empresas, isso significa uma porta aberta para a corrupção.

Fonte: Diário do Alto Tietê (21/08/2012)